Três jovens negros foram impedidos por seguranças de entrar no Shopping Golden Square, em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo. A cena foi presenciada pelo analista jurídico Fernando Moreira, que questionou os seguranças pela atitude. O caso ganhou repercussão após ser compartilhado nas redes sociais pelo padre Júlio Lancellotti. Moreira contou em entrevista que os seguranças alegaram que estavam impedindo a entrada dos adolescentes, que têm entre 13 e 16 anos de idade, porque um suposto furto teria acontecido em uma das lojas. "Perguntei se foram eles que cometeram o furto e o segurança disse não. Então eu pedi que ele deixasse eles entrarem porque ele poderia responder criminalmente por isso. Aí ele levou um susto", disse. O analista relatou que decidiu questionar o segurança após perceber que outras pessoas estavam entrando normalmente no estabelecimento. A entrada dos meninos, conhecidos por venderem bala no semáforo próximo ao shopping, acabou sendo liberada e eles contaram a Moreira que "isso acontece corriqueiramente". Ele mesmo contou o caso para o padre Júlio, de quem é amigo de longa data. "Eu fiz o que era possível, o que estava ao meu alcance. O padre até falou para conversarmos com administração do shopping para trazer dignidade a esses jovens. Alguma coisa precisa ser feita. Não apenas denunciar", disse Moreira. O analista registrou um boletim de ocorrência online como crime de difamação. Segundo ele, para registrar o crime como injúria racial, que seria o caso, era preciso que as vítimas comparecessem até a delegacia e os adolescentes não tinham documentos. Em nota, o Golden Square afirmou que "não tolera nenhuma forma de discriminação ou violência e reforça que, em parceria com a empresa responsável pela área de segurança, toda a equipe passará por um reforço de treinamento sobre diversidade e abordagem". Ontem, ao lado dos advogados Ariel De Castro Alves e Gui Macedo, secretário da Comissão de Igualdade Racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Moreira participou de uma reunião com a direção do estabelecimento. A ideia é propor que o shopping apoie iniciativas de inclusão e, quem sabe, ofereça uma oportunidade de aprendiz aos adolescentes. "As coisas demoram em mudar. Eu, como homem branco, o que posso fazer é estar ao lado e denunciar. Hoje, eles entraram tranquilamente no shopping, mas os seguranças ainda ficam patrulhando eles. É preciso que isso seja denunciado até que as pessoas entendam que isso não é normal", completou o analista.