24/05/2021 às 10h20min - Atualizada em 24/05/2021 às 10h20min
Enfermeiros e socorristas relatam filas em hospitais e dificuldades com oxigênio no transporte de pacientes com Covid: 'Assustador'
Equipes do pronto-socorro relembram filas na entrada dos hospitais e adaptações nas ambulâncias para bombas de infusão e torpedos de oxigênio. "Tínhamos medo de não ser o suficiente", diz enfermeiro.
"O pior cenário foi quando os leitos começaram a acabar. Nós tínhamos que aguardar com o paciente na frente do hospital porque não tinha vaga. As pessoas precisavam do atendimento, mas nós não tínhamos o que fazer". O relato da técnica de enfermagem Daniele Puente, de 25 anos, é mais um reflexo das dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde durante a pandemia de Covid-19. Daniele trabalha em uma empresa que presta atendimento de urgência e emergência médica na região de Sorocaba (SP). A profissional em entrevista relembrou os meses em que a cidade beirava os 100% de ocupação nos leitos de Covid, em março de 2021. O proprietário e também enfermeiro, Fábio Santos, afirma que várias vezes foi necessário aguardar por uma vaga com o paciente dentro da viatura no mês de março. "Em vários casos a gente não tinha nem lugar pra pôr. Às vezes tinha a vaga, mas por causa da burocracia e de toda a loucura desse esquema de leitos, a gente tinha que ficar com ele na ambulância. É um cenário assustador", diz. Além disso, a equipe chegou a enfrentar filas de ambulâncias na entrada do hospital. Todas elas aguardando com pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid. "É esse cenário. Você acaba de perder um paciente e já tem outro ali na porta esperando pra entrar", diz. Com a complexidade da doença, ainda pouco conhecida pela ciência, a empresa precisou realizar mudanças que vão muito além das máscaras e equipamentos de proteção. Fabio explica que a própria ambulância precisou ser adaptada para o atendimento de pacientes com Covid. "A gente costumava levar duas bombas de infusão em cada ambulância. Mas tivemos que fazer um suporte para poder carregar mais, já que tivemos casos em que o paciente usava cinco ou até seis bombas". Mesmo com as bombas a mais, a equipe precisava se preparar no caso de algum imprevisto, ou de até uma viagem maior pela escassez de leitos nos hospitais. "Como não tinha espaço dentro da viatura, precisamos improvisar tirando a cadeira de rodas e colocar dois ou até três torpedos de oxigênio a mais pra dar conta da demanda. É muito assustador, porque parecia que o oxigênio não ia dar. Tínhamos medo de não ser suficiente", explica.