A edição do Enem de 2024 foi marcada por ampla participação de concluintes do ensino médio na rede pública, com 94% dos inscritos, totalizando 1,66 milhão de candidatos.
Desde a aprovação da Lei de Cotas, em 2012, os alunos de escolas públicas conquistaram mais oportunidade de ingresso nas concorridas universidades públicas.
Contudo, apesar de estudos mostrarem que elas passaram a refletir mais a diversidade da população, a desigualdade no acesso ao ensino superior ainda é uma realidade complexa e longe de ser superada.
Pesquisas recentes, realizadas por nosso Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Desigualdade, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (NIED-UFRJ), em parceria com Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), evidenciam que os estudantes de famílias mais ricas ainda continuam em vantagem significativa no acesso ao ensino superior, em relação aos de baixa renda.
Em contraste, estudantes de baixa renda enfrentam desafios adicionais. Praticamente todos são egressos do sistema público, que oferece escolas com condições infra-estruturais piores. Além disso, há menor disponibilidade de recursos familiares para financiar os custos em uma faculdade particular.
Ou seja, estudantes ricos têm condições mais favoráveis de alcançar um bom desempenho acadêmico. Quando isso não acontece, eles ainda têm opções, principalmente no ensino privado.
Estudantes mais pobres, por sua vez, precisam não só de boas notas, mas também de um contexto favorável para seguir seus estudos. Essa disparidade explica por que, mesmo com desempenho semelhante, os mais ricos continuam a ter maior probabilidade de sucesso educacional.
Nosso estudo sugere a necessidade de políticas de financiamentos mais consistentes e condições de pagamento acessíveis e sem descontinuidades, como aconteceu com o Financiamento Estudantil (Fies), que acumula hoje mais de 800 mil estudantes em busca de renegociação de dívidas.